terça-feira, 23 de agosto de 2011

Paixão


          Não precisas ser fácil, não quero que sejas perfeita. Não precisas sempre me fazer sorrir, podes ser triste, podes deixar-me nervosa.
          Sê complicada, tudo bem ser inconstante, não ligo se me surpreenderes. Derruba-me no chão, deixa-me noites aflita. Faz-me esperar, ficar na dúvida. Faz com que eu implore por perdão, ajoelhe-me aos teus pés. Faz-me querer fugir, faz com que eu corra atrás de ti. Mostra-me teus defeitos, dá-me motivos pra te abandonar, deixa-me decidir que sou melhor sem ti. Humilha-me, agarra-me à força. Não deixa-me conseguir sair, toma conta de mim, não deixa-me respirar. Não deixa-me escolher, não deixa-me resistir.
          Não deixa-me desistir.


G. Sandrini

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Xilofone

Caro leitor, antes de começar, inicie esta musica para acompanhar sua leitura - http://www.youtube.com/watch?v=B4KuXxn7y8E


XILOFONE

É na levada da vida
Que se mostra arisca
E assim ela petisca
Salva a mania

Não há de ser má
Pois sem maldade errará
Olhando para lá
Quando ninguém olhará

E no soar da noite
Quando uivou o coiote
No salão nada havia
Além do boicote

Mas de que a mim vale
Presença dos que não me cabem
Se a única presença, bem,

Cá esta:

No soar do xilofone
Ecoada a batida
Ao tocar das cordas baixas
E a marcados passos dança

Como o lambar de notas postas
D`algo que já não importa
Pois não há como saber
Explicar ou mostrar ou dizer

Deve-se, pois, estar
E só estar
Mas não só
Sol e La, e Si bemol

Si depois e estranha nota
Que não haverá de distinguir
Só sentir e apreciarmos
E de La não avistar

Nem precisa...

Pra que ver, a final
Se ao poder, há de ser
Escuro e cores, branda leva
Como Si e La, mas lá manter

E de volta se o Sol for
Desta nevoa furta cor
Pura dança e ao soar
Do xilofone indagador

Que será?
Já não sei
e nem ei
Mas estarei

A estar
E dançar
Como ar

De cor a cor
Do dom do som
Sol Mi e La

E virá
Para estarmos
Um dois três
E um dois três

Virá e verá
Pois cá estará
Ao do xilofone soar,
...ah...


Pedreschi, Rafael P.


.

Apenas uma dança

Quatro badaladas e a luz baixa, na verdade aquele ornamentado cômodo estava só iluminado pela pálida e fria luz da lua que insistia em entrar pela fresta da cortina, mas aquela pouca luz era o suficiente para eles poderem ver o contorno um da silhueta do outro. Silêncio, ele levanta de onde estava sentado, pousa o quase vazio copo de uísque na mesa de centro, caminha a passos silenciosos e se ajoelha na frente dela, que sentava em sua poltrona favorita. Ela leva a mão ao rosto tentado em vão conter um soluço entre as lágrimas enquanto olhava para o contorno do rosto dele, não via seus olhos, sua vista embaçada pelo choro e a luminosidade quase inexistente não permitiam, mas... ela sabia exatamente qual era o olhar dele, aquele olhar que nunca mudara, aquele olhar que dizia tanto e que a colocava de joelhos.
-Não tinha que ser assim... – ela soluça mais uma vez, ele hesita, mas segura as mãos dela entre as suas – tinha?
Os olhos dele buscam algum refúgio se distanciando da silhueta dela. Ele queria dizer algo, ele sabia o que dizer, mas não devia, porque a verdade é que não havia o que se dizer.
-Quando tudo isso começou? – Ela murmura quase num lamento, com os olhos marejados correndo pelo salão – Toda essa frieza.
- No começo – murmura ele trazendo as mãos dela para perto dos lábios para beijá-las.
Ela retira as mãos bruscamente. Sabia que por mais quentes que fossem os lábios dele ou suas palavras, ele seria o mesmo garoto frio de sempre, e ela estava cansada daquilo.
- Não brinque comigo, não agora – ela olha para ele como se suplicasse – Por favor.
- Eu brinco... brinquei o tempo todo – ele olha para o chão – brinquei de falar a verdade, e agora estou brincando novamente com você – Tão poético, tão frio, ela enxuga novas lágrimas – brincando de falar a verdade.
-Por que você não acaba com isso de uma vez? Estou cansada dos seus joguinhos, estou cansada de você, estou cansada de tudo isso – Ela se encolhe na poltrona abraçando as próprias pernas, como para se esconder dele – sabe de uma coisa... – Ela arranca com um movimento violento a aliança que usava, ela queria arremessá-la longe, mas não há força, então simplesmente estende o braço, largando-a do lado da poltrona.
Em silêncio ele retira a própria aliança, junta a dela, com ambas na palma de sua mão a fecha com força.
- Acha mesmo que eu também não estou magoado? – Silêncio, ela evita o olhar dele – É... eu posso jurar que se não fosse você me lembrando que sou frio e manipulador, eu esqueceria – ele escapa com o olhar para o lado – Mas às vezes, mesmo com você, mun’amour, me lembrando, eu esqueço, esqueço que sou frio, orgulhoso e impassível... e me abalo, me machuco – as palavras não queriam sair – me magôo.
- São só palavras, pare com isso – Ela balança o rosto negativamente – nós dois sabemos que a mágica de suas palavras já morreram, por que ainda insiste nisso?
- Porque nós dois sabemos que você não acredita nas suas próprias palavras – afirma incisivo, ele sorri, ele sabe que aquilo é verdade – Tudo começou no começo... Desde lá éramos desse jeito, e nunca mudamos, nem um pelo outro, nem o outro pelo um.
- Você sempre sabe o que dizer – Ele ameaça um sorriso – mesmo que não haja o que se dizer, você é um monstro – fala ela enquanto estreita o olhar para ele e relaxa um pouco seu corpo.
-E você me conhece tão bem – fala ele com ironia.
-Sim – Ela sabia que aquela frase podia ser irônica naquele contexto, mas era verdade, na verdade, ambos sabiam disso, talvez muito mais ele do que ela – Você não estaria comigo se não lhe conhecesse, se não soubesse onde acertá-lo e com o que acertá-lo, só para te tirar dessa posição de frio e impassível.
- Parece que foi ontem, não? – fala ele brincando com as alianças.
- Que as trocamos? – murmura ela curiosa.
- Não – ele ri baixo – que dançamos pela primeira vez.
-Era para ser apenas uma dança.
- Apenas uma brincadeira – completa ele.
- Mas você me desarmou e me teve sem reação.
- E você me envolveu na tua teia de incertezas.
Eles riem juntos, eles eram tão diferentes e ao mesmo tempo tão parecidos, diametralmente opostos, mas eram como a imagem no espelho um do outro, tão semelhantes.
- Nós pisamos no pé um do outro – ele se levantou e caminhou em direção a vitrola que ganhara de seu pai anos atrás.
- Sim, mas continuamos dançando – fala ela sorrindo, mas o sorriso se esvai – mas uma hora a música acaba e o casal se separa, é inevitável.
- Sabe qual é o bom de não estarmos mais naquela festa? – ele coloca um disco na vitrola que começa a tocar – A música vai durar o quanto quisermos.
- E se não quiser mais?
- Então você me nega a honra dessa contra-dança... – ele conclui com um sorriso se ajoelhando na frente dela, pegando sua mão e a levantando, ela se deixa ser envolvida pelos braços dele.
- E como saberei se você realmente quer, e não está só sendo cavalheiro me tirando pra dançar? – pergunta ela meio desacreditada.
- Aí você vai ter que descobrir sozinha – ele corre uma mão pelas costas dela, chegando a nuca puxa o rosto dela para próximo do seu – Imaginando.
- Se pisarmos no pé um do outro?
Ele pega a mão dela e coloca novamente a aliança, em silencio ela toma a dele de sua mão e faz o mesmo, em silêncio eles continuam dançando. Ela coloca a cabeça no ombro dele e murmura.
- Já sei, continuamos dançando.




Giancarlo Ferraro Chimelli
02:34-11/08/2011

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Do Todo



Não sou aquele que se mostra, nem aquele que vos marca, sou aquele cujo legado apenas aos interessados deixa, são estes, pois, os que mais saberão seu valor e melhor o terão como um velho livro d’algum bom conhecimento.
“A arte da visão nada mais é que saber observar o que não pode ser visto pelos que apenas olham.”
(Pedreschi, R.P., 06/2008)

Meu nome?Um registro. Minha idade? Alguns números. Minha aparência? Apenas passageira.
Quem sou? Enigma. Enigma este que queima levando consigo o vigor de minha existência, quando a chama acabar e o enigma tiver resolvido, me tem morto. Então serei as trevas que à noite, em silêncio, abraçar-lhe-ão. Serei o caos que plantar-te-ei com a dúvida. Eu, assim como você será pra mim, serei o que eu quiser quando quiser. Eu sou as trevas, sem forma, sem razão, só profundidade.
"Faço de cada ato o climax, só assim o teatro de minha vida atingirá a plenitude"
(Giancarlo Ferraro Chimelli)

Pele macia, olhos brilhantes, sorriso aberto: cobertas de uma mente conturbada, um humor sarcásticos e um coração quente. Encontre-me em meus dias mais ensolarados, serei a que te faz sentir-se o melhor dos mortais, encontre-me em minhas noites mais frias e descobrirá o quão miserável és.
"Procure-me no crepúsculo, me encontrará onde as trevas dividem sua posse com a luz do sol."
(G. Sandrini - 11/08/2011)